Desmascare o fandarrão

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“Só valentes, éramos quatro e valentia mais do que a minha ninguém a tinha!”, dizia um. Há eternos gabarolas! Uns porque fizeram isto, outros porque fizeram aquilo. Outros que não fizeram, para mostrarem que eles é que estão certos. Outros porque se calaram quando os outros falaram, e outros porque não fizeram uma coisa nem outra, isto é nem falaram, nem se calaram, afastaram-se.

Mas vamos pôr ordem nisto. Talvez fosse de abrir um parenteses a seguir ao segundo ponto de exclamação do parágrafo anterior e fechá-lo no fim do dito parágrafo. E isto já nem só para facilitar a vida a quem lê, mas também para eu me orientar.

Postas as coisas assim, voltemos ao valentão. Sim, ao que disse que mais valentia do que ele ninguém a tinha. Ele próprio, depois de pensar bem e de falar com os seus botões, lá foi considerando que para ser franco fora admitido num grupo de “bravos”, que o acolhiam como par deles, porém sabia que a sua valentia se devia a um mal-entendido. Só não fugira porque ainda era capaz de ser mais medroso do que os fugitivos.

Muitos daqueles que se apregoam de valentes, se se espreitar bem para aquilo que dizem e seguir os seus hábitos, não o são na realidade.

Porém a descoberta de quem-é-quem nem sempre é fácil. Os que se vangloriam disto e daquilo muitas vezes assemelham-se a autores que, para adiarem a revelação do homicida, só concedem ao leitor escassos indícios.

Por isso, se quiser descobrir o gabarola, trave conversa com o fanfarrão. Elogie-o para que ele se alargue nas explicações, mas não demasiado para ele não considerar que é bajulação e começar a jogar à defesa.

Faça uma pergunta hoje e refaça a pergunta amanhã, com palavras diferentes claro, de maneira que se ele mentiu, seja levado a contradizer-se. Porque os que tentam passar a imagem daquilo que não são, esquecem-se dos disparates que disseram e inventam outros opostos no dia seguinte.

Se ainda não o tiver desmascarado, mostre-se interessado no que ele disse, mas finja que pouco percebeu de modo a que conte uma segunda vez. Repita o que ele disser como se tivesse compreendido, mas cometendo erros para que ele seja levado a corrigir, explicando tintim por tintim, as coisas que tinha pensado omitir.

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